terça-feira, 12 de junho de 2012

AS TRÊS CHAMAS DO AMOR. Haya, Ahava e Dod


Bem no meio da Bíblia, há uma coleção de poemas de amor hebraicos muito explícitos e eróticos que jovens rapazes judeus não têm permissão de ler até terem mais idade.

O Cântico dos Cânticos nos dá uma série de imagens do relacionamento entre homem e mulher. A alegria, o conflito, a perplexidade. É como se o amor que esse casal explora tivesse uma vida própria. A mulher diz várias vezes: “Não acordeis nem desperteis o amor até que ele o queira.” E é como se ela dissesse: “Seja o que for, é tão bom, é tão lindo, não podemos fazer nada para estragá-lo.
Nós usamos e abusamos dessa velha palavra “amor”, não é?
  
Nós dizemos que amamos uma pessoa, e logo depois falamos de como amamos um carro novo ou um certo par de calças. Afinal, eu amo a minha esposa. E eu também amo pastéis?
Nós temos que nos lembrar que o Cântico dos Cânticos foi escrito originalmente em hebraico, que tem três palavras pelo menos que correspondem ao nosso “amor”. A primeira é a palavra “raya”. “Raya se traduz literalmente como “amigo“ ou “companheiro“, alguém que lhe faz companhia. Pode até ser traduzido como o termo “alma gêmea”. As pessoas falam disso o tempo todo. E dizem coisas como: “Ela é minha melhor amiga” ou “Posso contar tudo para ele”. Estas são expressões de “raya”. Então vemos que no núcleo da relação entre esses amantes há uma amizade.

Outra palavra hebraica usada para “amor” é “ahava”. “Ahava” é um afeto profundo, o desejo de estar tanto com alguém que dói no seu coração. “Ahava” é quando sua mente e seu coração se voltam para o seu amante com tal paixão e intensidade que você não pensa em mais nada.

Minha esposa e eu fomos amigos por quatro anos, quatro anos de “raya”, antes que algo mais acontecesse. Eu morava em Los Angeles, e ela veio me visitar num fim de semana. Nós saímos pela primeira vez.
Havia uma sensação de expectativa no ar, devido `a nossa curiosidade. Sabe, “Será que há ‘ahava’ para complementar nosso ‘raya’?”

Lembro-me de estar sentado no restaurante em Santa Monica a alguns quarteirões do oceano. E senti a sensação de que eu preferia estar ali com ela naquele momento a estar em qualquer outro lugar do universo.
Os amantes afirmam no Cântico dos Cânticos que “ahava” é forte como a morte, que muitas águas não podem apagar o “ahava”. 
Ahava” é o amor da determinação. Muito mais profundo que sentimentos românticos fugazes. Muito mais que anseios temporários. “Ahava” é tomar a decisão de unir a sua vida `a de outro. Essa é uma emoção que leva ao compromisso, que o leva a unir a sua vida `a vida de outra pessoa. “Ahava” é o que faz tudo perdurar.

Talvez isso ajude: vamos pensar nesses amores, nessas dimensões do relacionamento, como chamas.

Primeiro tivemos a chama do “raya”, que é como a amizade, o aspecto da alma gêmea na relação. Depois vem a chama do “ahava”, que é a chama do compromisso e da decisão de unir suas vidas.

Mas há uma terceira palavra hebraica para amor no Cântico dos Cânticos: a palavra “dod”.

Dod” pode ser traduzido literalmente como “farrear, abalar, ou ameigar”. Acho que vocês entendem o conceito dessa chama. Essa palavra é usada em várias partes das Escrituras. Em Provérbios está escrito: “Vem, saciemo-nos de amores até pela manhã.” A mulher diz no Cântico dos Cânticos: “Beije-me ele com os beijos da sua boca porque melhor é o seu amor do que o vinho.”Dod” é o elemento físico e sexual de um relacionamento. Daí onde tiramos a palavra grega “Eros” que é traduzida literalmente como “erótica”.

Então temos a nossa chama de “raya”.
Temos a nossa chama de “ahava”.
E temos a nossa chama de “dod”.

E no encontro desse homem e dessa mulher, todas essas chamas são combinadas. Jesus fala dessa idéia de seres se encontrando. Ele usa o termo “uma só carne” para descrever essa conexão entre um homem e uma mulher. Mas essa carne é muito mais que um ato físico: é a emoção, são os corações, são as mentes e experiências. É a mistura das almas.
Então essa reunião física torna-se uma imagem de uma profunda realidade espiritual.
Jesus nos ensina que o sexo é um ato espiritual, e que algo tão lindo, algo tão poderoso, destina-se a perdurar para sempre.
Sabe, uma chama queimando solitária nunca será tão quente quanto todas as chamas juntas. Afinal, fomos criados para queimar todas as chamas juntas. E pense em todas as formas em que estragamos isso.

Por exemplo, pense em um caso amoroso. Um caso são duas pessoas compartilhando da chama do “dod”, mas sem as outras chamas, sem o “raya” nem o “ahava”. Não há amizade. Não há compromisso. Não há lealdade nem sacrifício. Há o “dod” mas não há “raya” nem “ahava”. São duas pessoas tentando só com a chama de “dod” conseguir todo o calor das três chamas juntas.
Não se surpreende que a pessoa sinta-se vazia e insatisfeita. Fomos criados para muito mais. Então a pessoa retorna para essa única chama repetidamente, sem nunca ficar satisfeita.
Não pode.
E que tal um casal que está casado há anos, e ainda estão juntos, ainda há compromisso, ainda há um certo “ahava”, mas, honestamente, não há nada mais? Não há amizade. Não há sexo. E eles negligenciam as chamas que finalmente tremeluzem e enfraquecem, até apagar.
Ao separar as chamas, nunca se alcança a satisfação. Isso é como viver for a do plano que Deus criou para sua vida.
Talvez a nossa cultura não tenha idéia do que é a verdadeira sexualidade. Talvez o mundo ao nosso redor, no que se trata de sexo, esteja completamente por fora. Afinal, a verdadeira sexualidade é vasta e misteriosa. Envolve você como um todo. Você tem um corpo, também tem alma e espírito.

Amor é o encontro das almas dando tudo de si para o outro.

                                        
E agora: que você honre a maneira como Deus o criou. Que você tenha um respeito profundo pelo fato de ser um ente profundamente espiritual e misterioso, e que o amor é no fundo algo extremamente espiritual. Que você descubra que as três chamas foram feitas para queimar juntas. E que você descubra…

…A CHAMA MAIOR.

Imagem Fabrício Falco: http://www.fabriciofalco.com.br/

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